Bem-Vindo!

“O que quer que você faça ou aonde quer que você vá, deixe sua mente permanecer em seu coração."

sexta-feira, 22 de agosto de 2014


Perseverança

Ana Jácomo


Jogo a minha rede no mar da vida e às vezes, quando a recolho, descubro que ela retorna vazia.

Não há como não me entristecer e não há como desistir.

Deixo a lágrima correr, vinda das ondas que me renovam por dentro, em silêncio, dor que não verte, envenena.

O coração marejado, arrumo, como posso, os meus sentimentos. Passo a limpo os meus sonhos. Ajeito, da melhor forma que sei, a força que me move.

Guardo a minha rede e deixo o dia dormir.

Com toda a tristeza pelas redes que voltam vazias, sou corajosa o bastante para não me acostumar com essa ideia.

Se gente não fosse feita pra ser feliz, Deus não teria caprichado tanto nos detalhes.

Perseverança não é somente acreditar na própria rede.

Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas.

Hoje o dia pode não ter sido bom, mas amanhã será outro mar.

E eu estarei lá, na beira da praia de novo...


quinta-feira, 21 de agosto de 2014




Perguntas

Como se explica
essa vontade imperiosa
que fica
mesmo depois
do objeto de desejo
ter ido embora?

Como podemos
jogar nossa razão
toda fora
e de uma hora pra outra
ter a certeza de um sentimento
por alguém que nem conhecemos direito?

Por que de algumas pessoas
só vemos as qualidades
e ignoramos os defeitos?

Como surgem tantos sonhos risonhos
numa mente antes povoada
por pesadelos medonhos?

Alguém tem a resposta, por favor?
Será isto aquilo que chamam amor?


(Mariana Valle)

terça-feira, 12 de agosto de 2014


Já não tenho paciência

 “Já não tenho paciência para algumas coisas, não porque me tenha tornado arrogante, mas simplesmente porque cheguei a um ponto da minha vida em que não  me apetece perder mais tempo com aquilo que me desagrada ou fere.

Já não tenho pachorra para cinismo, críticas em excesso e exigências de qualquer natureza.

Perdi a vontade de agradar a quem não agrado, de amar quem não me ama, de sorrir para quem quer retirar-me o sorriso.

Já não dedico um minuto que seja a quem me mente ou quer manipular.

Decidi não conviver mais com pretensiosismo, hipocrisia, desonestidade e elogios baratos.

Já não consigo tolerar eruditismo seletivo e altivez acadêmica. Não compactuo mais com bairrismo ou coscuvilhice.

Não suporto conflitos e comparações.

Acredito num mundo de opostos e por isso evito pessoas de caráter  rígido e inflexível.

Desagrada-me a falta de lealdade e a traição.

Não lido nada bem com quem não sabe elogiar ou incentivar.

Os exageros aborrecem-me e tenho dificuldade em aceitar quem não gosta de animais.

E, acima de tudo, já não tenho paciência nenhuma para quem não merece a minha paciência."

José Micard Teixeira
Escritor português

domingo, 10 de agosto de 2014

Parabéns aos Pais!


Meu Pai

Carolina Ramos

Quando te vejo, assim, domando a vida,
com a fibra invulgar do cavaleiro
que não teme as corcovas da subida,
nos reveses e quedas, altaneiro…

cabeça branca, face já curtida
pelo tempo e inclemência do roteiro,
velho e valente, fronte sempre erguida,
que a rude estrada forja o caminheiro…

mesmo que eu queira te dizer o tudo
que na alma eu sinto, meu falar é mudo,
minha voz na garganta se retrai!

Assim… faço dos versos o ofertório…
do coração, um cálido oratório…
e neles rogo a Deus por ti, meu pai!


quinta-feira, 7 de agosto de 2014





Seja

Vem e tire
essas certezas
da cara.

Deixe que a
bagunça na sala
entregue você.

Seja você
e sinta, faça
e fale tudo
independente
de quem estiver
na sua frente.
Mesmo que não
lhe pareça prudente.

Esqueça todo esse medo,
decência e conveniência.

Nada é mais indecente
do que se obrigar a fazer
o que não se quer.
Inconveniente é dor no pé
de calçar o sapato adequado
a olhos alheios.
Apertado, machuca, é feio.

Vem, vem ser você um pouco,
mesmo que te soe louco,
porque louca mesmo
é a velocidade
com que a vida
acontece.

Vem e apenas seja.
E aceite da vida
o que você merece.


(Mariana Valle)

domingo, 3 de agosto de 2014



A FLOR DO SONHO

A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre... fantasia... ou, talvez, sina...

Ó flor, que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?!...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh'alma
E nunca, nunca mais eu me entendi...


Florbela Espanca