Bem-Vindo!

“O que quer que você faça ou aonde quer que você vá, deixe sua mente permanecer em seu coração."

Poesias



O Amor

Delcy Canalles

Hoje, algo estranho sucedeu:
Sinto vibrar acordes dentro em mim.
E me pergunto: O que aconteceu?
O que me faz vibrar, feliz, assim?
Por que há ao meu redor tanta beleza
e  este desejo louco de cantar?
Até as flores têm mais realeza
e há perfume e alegria  pelo ar!
O mundo, hoje, sorri
e  eu sinto a vida que antes não sentia,
vejo poesia até no malmequer!
Quero viver  e, antes, não queria
e  agradecer a Deus por ser mulher!
E  medito... e  perscruto  o infinito
buscando  a causa da transformação.
De repente, ouço um eco, como um grito,
que  vem das fibras deste coração:
-Sou eu que, hoje, cheguei em tua vida,
que,  a ti,  buscando, há muito tempo, vinha!
Sou entusiasmo e sonho! Sou calor!
Mas quem és tu, ó alma irmã da minha?
Quem sou eu? Adivinha!
Sou o amor!



Dia dos Namorados

Como é belo amar e ser amado,
nutrir um sentimento, assim, profundo,
relembrar o primeiro namorado,
que marcou nossa entrada neste mundo!
Flertes, bilhetes, mimos e cartinhas
valem, de início, tanto quanto ouro
e os ciúmes, os segredos e as briguinhas
são artimanhas de qualquer namoro!
Os seres, quando estão apaixonados,
sejam noivos, esposos ou amantes,
devem ser uns eternos namorados,
para que juntos, vibrem, sonhem, cantem!
Santo Antônio de Pádua ou de Lisboa,
tu és o Protetor do Casamento,
por isso te pedimos: Abençoa
todo o idílio, com esse sacramento!
Não há idade para namorar
e velhice é , apenas, acidente,
basta ter coração capaz de amar
e se doar, ao outro, inteiramente!
Que cada um encontre sua metade,
a  complementação do próprio ser,
de braços dados com a mocidade,
que nos ensina a, sem tabus, viver!
Dia dos Namorados -  desejamos
cantar-te em versos, quentes de ansiedade,
e  abraçar, com carinho, a quem amamos,
sem recordar-te, apenas, na saudade!

           Delcy Canalles



A FLOR DO SONHO

A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre... fantasia... ou, talvez, sina...

Ó flor, que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?!...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh'alma
E nunca, nunca mais eu me entendi...

Florbela Espanca


Nós

Guilherme de Almeida

Quando as folhas caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos,


e que dirá de nós toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
- "Como se amaram esses coitadinhos!
como ela vai, como ele vai contente!"


E por onde eu passar e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos...


E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto
hão de falar os teus cabelos brancos.



Me leva

Mariana Valle

A vida é uma danada.
Você diz: "dessa água não beberei"
e bebe. E baba.
Você diz que nada te derruba
e vem um ventinho idiota
e você desaba.
E quando levanta, ainda pensa
que deveria ter sido derrubada
antes, para aprender.
Eu não sei nada, nem você.
Que bom!
O melhor da vida é fazer
descobertas, ter surpresas.
Não quero ser esperta,
ou presa a aprendizados passados.
Quero estar liberta
de conceitos ultrapassados
e estar sempre me redescobrindo,
sentindo os toques
que a vida me dá.
Ok, eu deixo essa danada,
deixo a vida me levar.


Ainda... A   primavera

Dorothy Jansson Moretti

O tempo corre em compasso inclemente,
levando pais, amigos, mocidade;
e um dia percebemos que saudade
é agora a sombra única e presente.

Não resistiram à fragilidade
os nossos sonhos bons de adolescente,
e outros de fase ainda não descrente,
há quanto tempo jazem na orfandade!

As estações sucedem-se, entretanto;
não as atinge o nosso desencanto...
Verão, Outono, Inverno... Ah quem me dera

que abrindo essas janelas do passado,
eu sentisse que nada foi mudado,
e que lá fora... ainda é Primavera.


Ouvir Estrelas

Olavo Bilac

Ora (direis), ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
que, para ouvi-las,
muitas vezes desperto
e abro as janelas, pálido de espanto. 

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo? ”

E eu vos direi:
“Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
capaz de ouvir e de entender estrelas.”





Alma perdida

Florbela Espanca

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...




Passado


Fernando Pessoa

"Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto, 
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão. 
A ave passa e esquece, e assim deve ser. 
O animal, onde já não está e por isso de nada serve, 
Mostra que já esteve, o que não serve para nada. 
A recordação é uma traição à natureza, 
Porque a natureza de ontem não é natureza. 
O que foi não é nada, e lembrar é não ver. 

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!"







Na partitura dos versos,
tento doces harmonias,
porque é mais feliz, no mundo,
quem, tecendo fantasias,
faz da existência um poema
e o canta, todos os dias!

José Lucas de Barros




Crepúsculo

Florbela Espanca

Teus olhos, borboletas de ouro, ardentes
Borboletas de sol, de asas magoadas,
Pousam nos meus, suaves e cansadas
Como em dois lírios roxos e dolentes…
E os lírios fecham… Meu amor não sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E  minhas pobres mãos são maceradas
Como vagas saudades de doentes…
O silêncio abre as mãos… entorna rosas…
Andam no ar carícias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando…
E a tua boca rubra ao pé da minha
É, na suavidade da tardinha,
Um coração ardente palpitando…




Manhã de Chuva

Dorothy Jansson Moretti

Falta-lhe o sol, mas o ar é tão puro,
e as árvores, mais verdes, mais altivas;
as flores, mais vibrantes, inesquivas,
desafiam o céu cinzento escuro.

Na sarjeta, a água em ondas agressivas,
arrasta longe tudo o que há de impuro;
e eu, com inveja em meu olhar , procuro
as crianças, lá fora, a rir, festivas.

Manhã de chuva mansa... doce imagem!
lembra-me a infância, a juventude, o lar,
ingenuidade... e café com bolinhos...

Coisas boas que o tempo, de passagem,
apático inclinou-se a transportar
no esquecimento atroz dos seus caminhos.



Serenata

Cecília Meireles

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permita que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.




Voz que se cala

Florbela Espanca


Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.



Amo a hera, que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.


Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino! 


Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!...


Tenho tanto sentimento

Fernando Pessoa

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.



Lágrimas Ocultas

Florbela Espanca

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim! 


Eu sou essa pessoa a quem o vento chama

Cecília Meireles

Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,
a que não se recusa a esse final convite,
em máquinas de adeus, sem tentação de volta.

Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza:
Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:
já de horizontes libertada, mas sozinha.

Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,
dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho ?
Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.

Pelos mundos do vento em meus cílios guardadas
vão as medidas que separam os abraços.
Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina:

- Agora és livre, se ainda recordas.





A chuva lenta

 Gabriela Mistral

         Trad. de Ruth Sylvia de Miranda Salles

Esta água medrosa e triste,
como criança que padece,
antes de tocar a tierra,
       desfalece.

 Quietos a árvore e o vento,
e no silêncio estupendo,
este fino pranto amargo,
     vertendo!


Todo o céu é um coração
aberto em agro tormento.
Não chove: é um sangrar longo
         e lento.

Dentro das casas, os homens
não sentem esta amargura,
este envio de água triste
         da altura;

este longo e fatigante
descer de água vencida,
por sobre a terra que jaz
         transida.

E caindo a água inerte,
calada como eu suponho
que sejam os vultos leves
         de um sonho.

Chove... e como chacal lento
a noite espreita na serra.
Que irá surgir na sombra
         da Terra?

Dormireis, enquanto lá fora
sofrendo, esta água inerte
e letal, irmã da Morte
         se verte?





Quem de Nós Dois?

Nídia Vargas Potsch
  
Quem de nós dois
nestes caminhos incertos
que a vida nos leva a seguir
continuou em frente
mas deixou de sorrir?

Quem de nós dois
deu o braço pra solidão,
 doce amargura de um coração,
que esmaga e extrapola a emoção?

Quem de nós dois
não quis saber das respostas
não indagou o certo e o errado
que tortura e aniquila a razão?

Quem de nós dois
abandonou-se à própria sorte
tentando escapar do seu norte,
usou de um simples subterfúgio
e deixou de amar?  Quem?



Tudo são Maneiras de Ver

 Fernando Pessoa

Onde você vê um obstáculo
alguém vê o término da viagem,
e o outro vê uma chance de crescer.

Onde você vê um motivo pra se irritar,
alguém vê a tragédia total,
e o outro vê uma prova para sua paciência.

Onde você vê a morte,
alguém vê o fim,
e o outro vê o começo de uma nova etapa.

Onde você vê a fortuna,
alguém vê a riqueza material,
e o outro pode encontrar, por trás de tudo, 
a dor e a miséria total.

Onde você vê a teimosia
alguém vê a ignorância,
um outro compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo
e que é inútil querer apressar o passo do outro, 
a não ser que ele deseje isso.

Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar.
Porque eu sou do tamanho do que vejo, 
e não do tamanho da minha altura.





Mar Português

Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.



Saudades
Florbela Espanca 
Saudades! Sim... talvez... e por que não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
 
Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!
 
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
 
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!



É fácil trocar as palavras

Fernando Pessoa

É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!

É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!

É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!

É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!

É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.




Los Jardines Del Poeta 

Antonio Machado


El poeta es jardinero. En sus jardines
corre sutil la brisa
con livianos acordes de violines,
llanto de ruiseñores,
ecos de voz lejana y clara risa
de jóvenes amantes habladores.
Y otros jardines tiene. Allí la fuente
le dice: Te conozco y te esperaba.
Y él, al verse en la onda transparente:
¡Apenas soy aquel que ayer soñaba!
Y otros jardines tiene. Los jazmines
añoran ya verbenas del estío,
y son liras de aroma estos jardines,
dulces liras que tañe el viento frío.
Y van pasando solitarias horas,
y ya las fuentes, a la luna llena,
suspiran en los mármoles, cantoras,
y en todo el aire sólo el agua suena.





O Meu Olhar

Alberto Caeiro
(Heterônimo de Fernando Pessoa)


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo... 
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender... 

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... 

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...




Paixão

Mariana Valle


Como posso ter paixão
se estou com os pés no chão?
Para se apaixonar,
é preciso voar,
sair do próprio corpo,
se libertar da mente,
fazer valer o inconsciente.
É preciso ser meio louco
e não ter receio de errar.
É imprescindível se libertar
das grades do medo.
Não há enredo pré-programado.
Pode dar tudo errado
no meio da história.
Para se apaixonar,
deve-se perder a memória.
Não existe passado,
só presente.
Tem que vir naturalmente.
Como posso ter paixão
se estou com os pés no chão?
Alguém pode me ajudar?
Alguém me leva pra voar?



Poema nº 18

Pablo Neruda


Aqui te amo
Nos sombrios pinheiros desenreda-se o vento
a lua fosforesce sobre as águas errantes
andam dias iguais a perseguir-me.

Desperta-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata desprende-se do ocaso.
Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas.

Ou a cruz negra de um barco.
Sozinho.
Às vezes amanheço e até a alma está úmida.
Soa, ressoa o mar ao longe.
Este é um porto.
Aqui te amo.

Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte
Eu continuo a amar-te entre estas frias coisas
Às vezes vão meus beijos nesses navios graves
que correm pelo mar onde nunca chegam.

Já me vejo esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os cais quando fundeia a tarde.
A minha vida cansa-se inutilmente faminta.
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

O meu tédio forceja com os lentos crepúsculos.
Mas a noite aparece e começa a cantar-me
A lua faz girar a sua rodagem de sonho.

Olha-me com os teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento
querem cantar o teu nome com as folhas de arame.



Tempo
 
Dorothy Jansson Moretti

O tempo apaga um sonho já desfeito,
na aridez de uma vida mal traçada,
uma paixão que se evolou do peito,
como essência do frasco evaporada.
 
Tudo finda como água já passada
que não retorna nunca mais ao leito;
do tempo que se foi não resta nada,
é verbo no pretérito perfeito.
 
Mas no incontido caminhar dos anos,
paciente, a transportar os desenganos,
ele ameniza o nosso sofrimento.
 
Lava que esfria e se transforma em rocha,
se algum desgosto ainda nos arrocha,
o tempo é o óleo bom do esquecimento.



Os Poemas 

Mário Quintana

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto,
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...



Os Versos Que Te Fiz 

Florbela Espanca

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas, meu Amor, eu não os digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!



Murmúrio

Cecília Meireles

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!



Pensando na Vida

Fernando Pessoa


Às vezes somos invadidos por uma solidão
tão grande que nos faz pensar que somos
uns fracassados ou injustiçados.

Às vezes nos damos conta que sentimos
tanta saudade de alguém que nos dá vontade
de tirar este alguém do nosso pensamento
e abraçá-lo de verdade para sentir o seu calor.

Às vezes nos intimidamos com as barreiras que
a vida nos impõe e até esquecemos que existem
caminhos alternativos que nos levarão ao nosso destino.
Às vezes nos encantamos com as aparências
e, mais tarde, percebemos que elas apenas nos
enganam e nos decepcionam.

Às vezes corremos tanto atrás de riquezas
materiais que esquecemos de regar
as flores que enriquecem a vida.

Às vezes deixamos de sorrir
tornando o nosso dia cada vez mais escuro.

Nessas horas, precisamos buscar um grande sorriso
para alegrar o nosso coração e para entendermos
que temos apenas uma vida com vários momentos que devem
ser adoçados na medida certa para que a felicidade nos encontre.

Precisamos, nesses momentos, ter absoluta consciência
de que o melhor futuro será, sempre, edificado sobre um passado esquecido.

Precisamos entender que ser feliz não é ter o melhor de tudo.

Ser feliz é usufruir o melhor de tudo que encontramos pelo caminho
e para isso é necessário despejar no abismo do esquecimento
todas as dores e fracassos do passado.

Não existe escuridão que possa esconder, de nossa alma,
o lado positivo das coisas impedindo o nosso caminhar pela vida.

5 comentários:

  1. Parabéns, Estela!! Vida longa para teu Blog que, com certeza, fará a felicidade de muitos poetas e trovadores! JÁ és uma incentivadora pontual no mundo trovadoresco... Agora, então, teus voos atingirão um universo maior! Sucesso!
    Lisete Johnson

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    1. Querida Lisete

      Fiquei muito feliz com o seu carinho.
      Ainda estou tateando mas aos poucos vou descobrindo coisas novas e incrementando o blog.
      As trovas, claro, não poderiam faltar. E você vai estar por lá, com certeza.

      Beijinho

      Estela

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  2. Muito bom, lindas poesias, maravilhoso Fernando Pessoa, Lindo teu blog, parabéns!!!
    Muitos abraços e um feliz Mês! Beijos!!!

    http://maiaraangels.blogspot.com/

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    1. Fiquei muito feliz com sua visita. Volte sempre!
      Um ótimo feriadão!
      Beijos

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  3. Bom que descobri você! Vou lendo devagar...Tantas belezas não podem apreciadas de uma só vez. Amo Poesia, amei todas que publicou...Voltarei, tenha certeza. Um dia de Paz para todos nós.

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