Retrato de mãe
Dom Ramon Angel
“Uma simples mulher existe que, pela imensidão de seu amor, tem um pouco de Deus;
E pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo;
Que, sendo moça, pensa como uma anciã e, sendo velha, age com as forças todas
da juventude;
Quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da vida, e,
quando sábia, assume a simplicidade das crianças;
Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama, e, rica, empobrece-se
para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos;
Forte, entretanto estremece ao choro de uma criancinha, e, fraca, entretanto se
alteia com a bravura dos leões;
Viva, não lhe sabemos dar valor porque à sua sombra todas as dores se apagam,
e, morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo, e
dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios.
Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope de
lágrimas este álbum porque eu a vi passar no meu caminho.
Quando crescerem seus filhos leiam para eles esta página: eles lhe cobrirão de
beijos a fronte; e dirão que um pobre viandante, em troca de suntuosa
hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria mãe...”
(Tradução de Guilherme de Almeida)
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